Comida di buteco 2025: paixão por buteco aparentemente é sinônimo de angu
O Malagueta visitou sete participantes do comida di buteco em Belo Horizonte e trouxe o review para vocês
Este ano, o festival Comida di Buteco completou 25 anos e o tema para honrar 1 quarto de século de um dos maiores festivais de gastronomia do Brasil foi “paixão por buteco.” Entre os dias 11 de abril e 11 de maio, 124 butecos de Belo Horizonte servem pratos especiais criados pela casa para conquistar o prêmio e coração dos mineiros.
A equipe do Malagueta visitou sete entre os 124 butecos participantes e trouxe para vocês como foi a experiência. Infelizmente, por falta de orçamento, não foi possível visitar todos os competidores, mas quem sabe ano que vem!
Antes de tudo, precisamos de falar dele: o tema.
Será que este foi um bom tema?
Durante muitos anos do festival Comida di Buteco, participantes e consumidores argumentaram que ao selecionar ingredientes específicos como tema do festival, muitas vezes, o sentimento que ficava era que você estava comendo a mesma coisa em todos os lugares.
Por mais que seja preparado de formas diferentes, depois do 10º prato de mandioca com alguma coisa, é de se esperar que o consumidor fique cansado do ingrediente. Este “cansaço” pode interferir na própria votação, visto que no primeiro prato o entusiasmo ao provar aquela saborosa mandioca na manteiga é bem maior que no último.
Contudo, pelo menos dentro dos pratos que conseguimos provar e daqueles que pesquisamos sobre, a ideia do tema “paixão por buteco” saiu pelo culatra e resultou em vários pratos que tinham a mesma base: angu mole e alguma parte do porco.
Alguns participantes, como o famoso Café Palhares com seu bolinho de berinjela, conseguiram fugir deste padrão e com certeza vão se destacar por isso. No entanto, é inegável que a carne de porco ainda é a estrela do festival. Afinal, tradição é importante, mas será que, depois de 25 anos, ainda queremos comer a mesma coisa em todos os botecos? Fica a reflexão.
Agora vamos aos pratos.
Sextou BB!: o bolinho de feijoada do Santa Boêmia
O prato servido pelo buteco Santa Boêmia, localizado no Santa Tereza, foi o Sextou BB!, um prato composto por bolinhos de feijoada, recheados com calabresa e couve, acompanhados de torresminho pururuca, vinagrete da casa, laranja e uma dose de cachaça.
Quando chegamos, por volta das 20h da noite, a casa estava cheia, já com fila de espera. Contudo, os funcionários foram solícitos e simpáticos, organizaram a fila e logo mais estávamos sentados.
A casa cheia atrasou um pouco o atendimento, com garçons preocupados correndo de um lado para o outro, mas nada alarmante. Em poucos minutos já estávamos com uma cerveja na mesa e em menos de 20 minutos recebemos o tão esperado prato.
No geral, estava bom. Os bolinhos de feijoada, um clássico do mundo dos butecos, encaixaram bem com o tema, assim como os torresmos e a dose de cachaça. Apesar de saboroso, o bolinho não estava com aquele tempero forte de feijoada e a couve no interior tornou-se uma bolinha que na primeira mordida puxava todo o recheio, deixando para trás apenas uma casca oca de feijão.
A experiência de comer o torresmo foi um meio termo entre sabor e muita gordura grudada nos dentes de trás. A estrela do prato com certeza foi o vinagrete da casa, feito com molho inglês, que trouxe personalidade e compôs perfeitamente os bolinhos.
Nos barulhos das vozes ao nosso redor era possível perceber que existe consenso: bom, mas não incrível.
Língua da vovó virinha: a língua de boi gourmet do Azougue fogo e bar
O bar gourmet localizado no bairro da Serra, Azougue Fogo e Bar, deixou sua marca no Comida di Buteco 2025 com o prato Língua de Vovó virinha, uma língua de boi assada, sobre creme de batata e milho com vinagrete mineiro e redução do caldo da própria língua com cerveja.
Podemos dizer que este bar é o primo rico dos butecos belorizontinos. Além de sua decoração moderna, o cardápio conta com drink a partir de R$24,00 e uma extensa cartela de vinho, algo que não vimos nos outros competidores visitados.
O restaurante (não dá nem para chamar de bar) estava bastante cheio e sua estrutura fechada com tendas acabava prendendo o som, resultando em um local muito barulhento onde era difícil conversar.
Por outro lado, mesmo estando bem cheios, fomos atendidos em segundos e no tempo de ir ao banheiro e voltar, o prato já estava na mesa.
Este prato realmente foi uma experiência gastronômica. A língua estava macia, desmanchando, bem temperada e o crispy de couve sequinho e crocante. O vinagrete com milho trouxe uma acidez que compôs perfeitamente o prato, além de deixá-lo mais colorido e atraente.
O único erro do prato foi o creme de milho. Apesar de muito lisinho e bem executado, o creme estava sem gosto. Alguns podem até argumentar que o creme não precisava de tempero, pois o caldo da carne equilibrava o sal, mas como diria o queridíssimo chef Jacquin, todos os elementos do prato precisam estar bons separadamente e não podem depender do tompero alheio.
Estrem voa!: o frango triste do Marina’s bar
O prato apresentado pelo barzinho de esquina Marina’s bar foi o Estrem voa!, que consistia em asinhas de frango fritas marinadas na laranja e ervas, cobertas de queijo mussarela, acompanhada com creme de alho-poró e gengibre picante e fritas.
O local era bem aconchegante, com ar de bar de bairro, onde todos se conhecem e os mesmos senhores sentam na porta todos os dias para tomar uma cerveja. Os garçons sempre com um sorriso no rosto e dispostos a te ajudar com qualquer coisa.
Infelizmente, neste caso, o bom atendimento foi ofuscado pela péssima qualidade do prato. Além de ter demorado mais de 40 minutos para chegar, o maior tempo de espera em todos os restaurantes que visitamos, o prato em si foi uma decepção.
Eu que amo frango, estava ansiosa para provar o primeiro prato que não era de porco, mas o que recebi foram asinhas tão passadas que cheguei a engasgar com um pedaço de frango seco. Além de seco, o frango não tinha gosto de laranja ou de nenhuma das especiarias prometidas, a batata era do tipo congelada e estava meio crua, o molho de alho poró e gengibre tinha gosto de estranho (literalmente indescritível, só estranho).
Ironicamente, este foi o primeiro bar que nos ofereceu a cédula de votação. Neste caso era melhor ter entregado só a conta mesmo.
Ajoelhou, vai ter que rezar!: o joelho de porco do Conectados Bar que conquistou meu coração
Desta vez no bairro Prado, provamos o prato Ajoelhou, vai ter que rezar! apresentado pelo Conectado’s Bar. O prato, composto por um cozido de joelho de porco e pernil com especiarias, servido sobre creme de mandioca ao alho, acompanhado de farofa de milho amanteigado e banana-da-terra, entregou tudo que prometeu.
Além da carne macia que descolava do osso, o tempero surreal toma conta da sua boca e a combinação com o creme de mandioca me trouxe memórias da comida da minha mãe. Uma comida afetiva, com cara de buteco, que deixa seu corpo e seu coração quentinho.
Mas, sem dúvida, o mais especial deste prato é a farofa. Naturalmente, o joelho de porco é uma carne gordurosa e trazer uma farofa com banana da terra foi simplesmente uma forma genial de suavizar o prato com um toque de doçura.
A farofa estava molhadinha, temperada e cada garfada do prato tinha o sabor elevado pela garfada de farofa que vinha em seguida.
O ambiente era limpo e o atendimento era bom, apesar do prato ter demorado um pouco mais que o normal para sair. Aqui, as bebidas também tinham um preço um pouco salgado, mas o prato vale a pena.
Amontadinho: o prato do Prado Beer que talvez não deveria ter amontoado tanto
O Amontadinho do Prado Beer é um exemplo clássico da comida que você olha e pensa: às vezes menos é mais. O angu com carne de panela, chips de jiló e molho à base de milho e cachaça criado e servido pelo bar é a prova viva que quando você faz coisa demais, não consegue fazer nada bem.
A carne e o angu estavam corretos, mas não trouxeram nada de inovador ou surpreendente. A escolha de parear o prato com um chips de jiló não fez sentido algum, seria muito mais interessante servir um pãozinho ou algo que pudesse molhar na carne.
Antes que venham dizer: “ai mas você não gosta de jiló”, o que é verdade, afinal quem gosta, eu já comi chips de jiló diversas vezes em casa, pois minha mãe é muito fã e sempre me criou na base do “se está preparado de outra forma quem sabe você gosta”. Apesar de que ela mesma diria que eu não gosto de seus chips de jiló, os dela, feitos na correria e na airfryer, são mais crocantes e menos amargos que os chips que comi no Prado Beer.
Chips de jiló à parte, o molho de milho e cachaça era pelotudo e com gosto de caldo de conserva. Os brigadeiros de milho servidos como sobremesa estavam até ok, mas não conseguiram melhorar o sentimento geral sobre o prato.
A sensação final é que o cozinheiro juntou todos os ingredientes que o lembraram buteco e tentou colocar todos no mesmo prato.
Além disso, o local estava sujo e o atendimento não foi dos melhores. Da mesma forma, a apresentação do prato não foi bem pensada. A escolha de colocar o molho no copo lagoinha pode até remeter a buteco, mas não foi uma louça funcional para comer.
Canela di Butequêro: um exemplo de marketing com o Buteco do Rod
O novo buteco mais badalado da Pampulha, o Buteco do Rod, chegou nesta edição do Comida di Buteco como um forte competidor com seu prato Canela di Butequêro, um cambito suíno ao molho de cerveja preta, acima de uma polenta temperada com páprica defumada e espinafre, acompanhado de farofa panko com bacon, finalizado com queijo gouda derretidinho.
Este buteco se destaca principalmente pela sua estética moderna, com alma de marketeiro. O dono, que estava presente no bar e trabalhando lado a lado com seus funcionários, claramente pensou em todos os detalhes, construindo uma jornada do cliente bem estruturada.
O primeiro choque foi constatar que um buteco no meio do bairro Jardim Paquetá estava lotado em uma terça-feira à noite. Mas isso não impactou nossa experiência, visto que sim, ele também pensou nisso, e organizou uma fila de espera com cadeiras e opções de bebida, fazendo o consumidor esquecer que ainda não tinha mesa.
Além das ações no próprio restaurante, o proprietário investiu pesado em ações de marketing, contando com um Tiktok ativo para o estabelecimento e parcerias com influencers de diversos tamanhos.
Mas vamos falar do que importa: o prato. O tempo de espera foi adequado, nem o mais rápido nem o mais demorado. A apresentação estava impecável, um prato que dá água na boca só de ver.
A canela de porco estava saborosa e apesar de ser acompanhada novamente de um angu mole, ele estava lisinho, bem temperado e o queijo gouda trazia um toque extra que fez toda a diferença.
A única decepção do prato foi a farofa. A escolha de fazer uma farofa apenas com farinha panko não deu muito certo e resultou em uma farofa meio sem graça, gordurenta e com uma textura estranha.
Além disso, parear uma carne de porco gordurosa com uma farofa de bacon acabou deixando o prato pesado. Talvez optar por uma farofa de cebola, vegetariana, e fazer um mix de farinhas teria deixado o prato nota 10.
Trem de roças: o prato do Amarelim do Prado que foi o grande campeão do Malagueta
Sabor indescritível que me marcou tanto que até sonhei que estava comendo o prato novamente. Este foi o impacto do Trem das Roças, uma bochecha de porco na cama de angu mole, pesto de horta, mandioca e agrião, acompanhada de pão e patê de fígado de galinha.
De primeira, o prato criado pelo chef do bar Amarelim do Prado não me pareceu lá grandes coisas. Por que parear uma bochecha de porco com fígado de galinha? Foi o que me veio à mente. Mas fico feliz em dizer que nunca estive tão errada.
As torradinhas com patê de fígado são como uma entrada que acompanha o prato principal, a bochecha. E amigos, que patê! Feito com noz moscada, gengibre, cravo e anis estrelado, o patê de fígado é uma explosão de sabores que te marca como um manjar dos deuses.
A bochecha macia, bem temperada, é servida neste angu mole extremamente bem feito regado com ele, o molho pesto da casa, que eleva o nível e traz um olhar novo sobre um prato já feito tantas vezes. Até as fatias de jiló que acompanham o prato estavam deliciosas e ajudaram a absorver um pouco da gordura natural do porco. Neste caso, mais é mais e cada detalhe do prato contribui para essa verdadeira experiência gastronômica que foi comer no Amarelim do Prado.
E para vocês? Quem merece o título de campeão do Comida di Buteco 2025? Conte para a gente nos comentários.